Nos últimos 10 anos, são 1,7 milhão a mais de mulheres cuidando de seus filhos sem a presença ou apoio de parceiro(a)
No mês das mães, não podemos deixar de olhar diretamente para elas, as mães solo, que têm seu número aumentado nos últimos anos no Brasil.
O Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas fez um levantamento sobre o tema e identificou um aumento significativo no número de mães que carregam sozinhas toda a responsabilidade sobre seus filhos. Segundo a FGV- Ibre, o número de mães solo no Brasil cresceu 17,8%, entre 2012 e 2022, passando de 9,6 milhões para 11,3 milhões. Ou seja, houve um aumento de 1,7 milhão de mães solo em dez anos.
O principal fator que contribuiu para o crescimento da maternidade solo foi atribuído ao aumento da população de mães solteiras não-brancas (pretas e pardas), que representam 90% deste total. Seus números aumentaram de 5,4 milhões para 6,9 milhões durante esse período analisado pela FGV. Já o número de mães solo identificadas como brancas ou asiáticas é relativamente consistente.
O QUE SIGNIFICA O TERMO “SOLO”
O termo “solo” não se refere apenas a estar sem companheiro(a), mas abrange a totalidade das responsabilidades que recaem exclusivamente sobre os ombros da mãe. A maternidade traz consigo uma série de novas obrigações para as mulheres. No caso das mães solo, elas são intensificadas pela falta de partilha, o que gera grande sobrecarga. Para captar verdadeiramente as dificuldades enfrentadas por essas mulheres — que não têm um parceiro(a) ou uma rede de apoio consistente —, o termo “mãe solo” revela-se um entendimento mais abrangente do que simplesmente referir-se a elas como “mães solteiras”. E reconhece o profundo sentimento de solidão e as lutas diárias que essas mães enfrentam enquanto carregam as responsabilidades de criar seus filhos sem a partilha de responsabilidades. Compreender essa diferença é importante para compreender as diversas experiências da maternidade.
DIFICULDADES VIVIDAS PELAS MÃES SOLO
As mães solo no Brasil experimentam desafios únicos. No topo da lista estão os problemas financeiros. Muitas delas têm que sustentar suas famílias com um único salário, e precisam encontrar um trabalho flexível que lhes permita combinar com os cuidados contínuos com os filhos. Além disso, também há o gerenciamento do tempo que envolve a organização e implementação da rotina diária, tomada de decisões, os cuidados com os filhos e com a casa, dentre outros. Muitas delas não tem nenhum tipo de ajuda, seja ela de parentes, amigos ou funcionários. Sobre estas mulheres, recai toda a sobrecarga mental, afetiva, emocional e prática da família, resultando num cenário no qual os seus planos individuais fiquem em segundo plano.
Outra questão ainda muito enfrentada por elas é a pressão social, que, até hoje, é muito severa. Ser mãe solo ainda é muito estigmatizado e pode levar a julgamentos e críticas indesejadas. O apoio emocional é muito limitado, fazendo com que se sintam solitárias e desamparadas e sem quaisquer responsabilidades parentais compartilhadas em momentos de estresse.
FORTALECENDO MÃES SOLO – A ATUAÇÃO DO IAMÍ
Um dos objetivos institucionais do IAMÍ (Instituto de Assessoria a Mulheres e Inovação) é o combate às injustiças de gênero por meio do fortalecimento da autonomia das mulheres. Os dados internos do instituto mostram que cerca de 40% das participantes que já passaram pelo projeto são mães solo, e isso só reforça nosso compromisso em acolher e fortalecer esse perfil.
As ações de melhorias habitacionais promovidas visam uma maior qualidade de vida para as mulheres e suas famílias e as capacitações visam ganhos de autonomia e uma possibilidade para geração de renda. Com o projeto AnP Assessoria Técnica, elas aprendem a melhorar as suas casas, sem depender ou precisar da ajuda, ou contratar alguém para fazê-las, evitando que tenham mais despesas. Já com o AnP Capacitações e Obras, elas aprendem ofícios e recebem treinamento para trabalhar na construção civil.
Em 2024, na seleção de candidatas para participar do projeto de Capacitações e Obras, levantamos os seguintes dados: foram cerca de 90 mulheres inscritas de toda Região Metropolitana de Belo Horizonte. Deste grupo, mais de 77% são mães, 67% não têm emprego, ou, possuem renda familiar menor que 1 salário mínimo. E esses dados não variaram muito dos de 2023, onde foram 229 inscritas ao todo, sendo que 146 delas não possuíam emprego e 177 afirmam que a renda familiar é menor que um salário mínimo. A possibilidade de aprender e atuar na construção civil é um horizonte de geração de renda para essas mulheres, que podem, a partir disso, alavancar a qualidade de vida de suas famílias.
Nenhum fator isolado é capaz de, por si só, solucionar as dificuldades enfrentadas pelas mães solo. Para além do fortalecimento da autoestima, das melhorias habitacionais e de uma garantia de renda, é preciso ainda contar com creches e escolas gratuitas de qualidade e integrais, programas de apoio jurídico e aconselhamento, serviços de apoio psicológico, o esforço pela redução do estigma social, a possibilidade de lazer e descanso, além da construção de redes de apoio comunitárias. Nesse contexto, não podemos deixar de falar também de um aspecto crucial para o planejamento de vida de todas as mulheres, que é a garantia plena de exercer seus direitos sexuais e reprodutivos.
Toda mãe trabalha.
Mesmo o leite no capitalismo valendo menos que o ouro.
Toda mãe trabalha. Mesmo que a sociedade patriarcal insista em dizer que não.
Toda mãe trabalha. Só esqueceram de contabilizar as horas de cuidado como trabalho remunerado. O mesmo trabalho não pago de afazeres domésticos e cuidados nas famílias, que se contabilizado, acrescentaria 13% ao PIB brasileiro.
Toda mãe trabalha. No silêncio das madrugadas, quando todos os outros dormem e o mundo para, a mãe está atenta, no sono da vigília.
Toda mãe trabalha. Mesmo quando enxuga as lágrimas e reergue a coluna para cuidar.
Toda mãe trabalha. Mesmo quando nossos corpos estão a serviço de sistemas que nos desvalorizam.
Toda mãe trabalha. E não deveríamos nos explicar do por que consideramos tudo o que fazemos trabalho, isso nos gera mais trabalho.
Toda mãe trabalha, e isso deveria ser óbvio!
Toda mãe trabalha e isso não é motivo de romantização, mas de luta por direitos iguais, justiça reprodutiva, e políticas públicas que nos protejam.
Toda mãe trabalha. Mesmo deitada, uma mãe que gesta está produzindo olhos, nariz, cabeça, coração, rim, estômago, esôfago, pulmão…
Toda mãe trabalha.
Samanta Giannico @gestar_parir_amar
A Arquitetura na Periferia promove suas ações de impacto junto às mulheres, atuando no fortalecimento de sua autonomia e na transformação de casas e vidas! Para que mais pessoas sejam impactadas e o projeto continue avançando, precisamos do seu apoio! Conheça mais sobre o projeto e faça sua doação: